*Por José Manoel Ferreira Gonçalves
As recentes eleições municipais chegaram ao fim no Guarujá, reafirmando, mais uma vez, a resiliência da democracia. Através do sufrágio, o povo brasileiro escolheu seus representantes, confirmando um processo que, apesar de suas falhas estruturais, ainda se apresenta, dentre todos os possíveis, como o caminho mais promissor para a construção de uma sociedade equitativa e justa.
É imprescindível reconhecer, entretanto, que o processo eleitoral ainda é permeado por desafios significativos. A desigualdade de recursos financeiros entre os candidatos constitui um obstáculo que restringe a plena realização da equidade política, limitando as possibilidades de participação efetiva para muitos. Além disso, as complexidades inerentes a um sistema democrático em constante evolução demandam atenção crítica e reformas contínuas. A consolidação da democracia é um processo dialético, caracterizado por avanços e retrocessos, e a participação popular se torna essencial para solidificar esses progressos, garantindo que o poder permaneça nas mãos do povo.
A vitória do ex-prefeito, após um intervalo de 16 anos fora do poder, suscita uma reflexão profunda sobre as razões que conduziram ao seu retorno, os erros históricos de sua gestão e os desafios que se colocam para o futuro. É imperativo refletir sobre os equívocos do passado, incluindo uma condenação por improbidade administrativa, e buscar mecanismos eficazes para evitar a repetição desses erros, de modo a assegurar uma gestão comprometida com a transparência e com a justiça social. A alternância no poder e a necessidade de reconquistar a confiança do eleitorado podem se tornar catalisadores para uma administração mais ética e eficiente.
Nesse novo contexto, cabe à sociedade civil, em cooperação com os partidos políticos, desempenhar um papel ativo e vigilante. A fiscalização contínua e a exigência de políticas públicas substanciais são fundamentais para fomentar o desenvolvimento urbano. A criação de conselhos comunitários, que acompanhem de maneira sistemática a implementação de políticas locais, é um exemplo concreto de como a sociedade pode contribuir para a transparência e a participação cidadã. Da mesma forma, iniciativas como o orçamento participativo têm demonstrado eficácia em diferentes cidades ao permitir que a população defina coletivamente as prioridades de investimento, promovendo uma verdadeira democratização do poder decisório.
Além disso, a proposta de se criar um observatório político, envolvendo múltiplos setores da sociedade, emerge como uma iniciativa altamente pertinente. O acompanhamento rigoroso das ações do poder público, sustentado por auditorias independentes, mecanismos sólidos de transparência, e a participação de representantes da sociedade civil, pode contribuir significativamente para o fortalecimento da democracia local. Tal observatório não apenas promoveria uma supervisão isenta e responsável, como também garantiria uma maior responsabilização dos governantes em relação ao cumprimento de suas promessas e obrigações.
A Aguaviva, fiel ao seu compromisso com a democracia e o bem-estar comunitário, apoia incondicionalmente a criação desse observatório político e se coloca à disposição para colaborar ativamente nesse processo transformador. Estamos convictos de que a convergência de esforços, baseada no diálogo aberto e na busca por soluções compartilhadas, é a via mais eficaz para enfrentar os desafios contemporâneos e construir um futuro mais inclusivo e próspero para todos.
*José Manoel é pós-doutor em Engenharia, jornalista, escritor e advogado. Ele é o fundador da FerroFrente, uma iniciativa que visa promover o transporte ferroviário de passageiros no Brasil, e da Associação Água Viva, que fortalece a participação da sociedade civil nas decisões do município de Guarujá.