Grupo de Trabalho ou Estratégia de Silêncio? Onde estão os relatórios prometidos pela Prefeitura?

Em janeiro de 2025, a Prefeitura de Guarujá anunciou a criação de um Grupo de Trabalho para acompanhar os serviços da SABESP no município, por meio do Decreto nº 16.536/2025. Segundo nota oficial publicada em seu site, o grupo seria composto por representantes de diversas secretarias e da própria concessionária, com a missão de fiscalizar contratos, avaliar investimentos e garantir a qualidade dos serviços prestados à população.

Cinco meses e vinte e cinco dias depois, a realidade é outra: nenhum relatório foi divulgado, não há qualquer evidência de fiscalização efetiva, e a Prefeitura se recusa a prestar informações públicas sobre as conclusões do tal grupo.

A quem serve esse silêncio?

A nova cobrança formal da Água Viva – Associação Guarujá Viva foi feita nesta quinta-feira, 24 de julho, por meio do Ofício nº 489/2025, endereçado ao prefeito Farid Madi e ao secretário de Meio Ambiente e Segurança Climática, Bruno Tacon Cardoso. A entidade solicita cópias dos relatórios, esclarecimentos sobre as providências adotadas e a criação de um canal institucional de diálogo com a sociedade civil.

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A Associação continua recebendo denúncias diárias de moradores relatando problemas com esgoto, despejo irregular em rios e praias, falta de água e ausência de resposta da concessionária. Sem alternativa, a entidade tem sido obrigada a recorrer constantemente ao Ministério Público do Estado de São Paulo, uma vez que os canais da SABESP são ineficientes e a Prefeitura não oferece sequer um canal institucional para denúncias ou acompanhamento da população.

A falta de transparência atual ganha contornos ainda mais graves quando lembramos que, em janeiro deste ano, a Associação já havia enviado o Ofício nº 370/2025 à Prefeitura, solicitando a análise da possibilidade de rompimento do contrato nº 313/2019 com a SABESP.

Na época, os motivos eram contundentes e documentados:

  • Interrupções constantes no fornecimento de água potável, sobretudo em Vicente de Carvalho;
  • Falhas crônicas no esgotamento sanitário, com extravasamentos, vazamentos e contaminação de rios e praias;
  • Risco à saúde pública, com surto de doenças gastrointestinais relacionadas à água;
  • Abandono de investimentos estruturais, como o reservatório da Cava da Pedreira;
  • Prejuízos à economia e ao turismo, com impactos diretos na imagem do município;
  • Ausência de transparência da própria SABESP, que não divulga planos, metas ou medidas corretivas.

A resposta da Prefeitura, à época, se limitou a mencionar a existência do tal Grupo de Trabalho, criado semanas antes, como justificativa para não debater a rescisão contratual. Desde então, nenhuma atualização foi oferecida à população.

Um grupo sem rosto, sem voz, sem resultados

“O grupo parece existir apenas como argumento político. Até agora, não vimos relatórios, atas, deliberações ou fiscalizações reais. Nenhuma transparência. Nenhum canal aberto à sociedade. A quem esse grupo responde? Qual seu papel real? Porque, até agora, é apenas um escudo para proteger a SABESP das críticas legítimas que vêm da população”, denuncia José Manoel Ferreira Gonçalves, presidente da Água Viva.

A degradação ambiental contínua na Praia do Perequê e no Rio do Peixe já é alvo de ação na Justiça. No dia 3 de junho de 2025, a Associação Guarujá Viva (AGUAVIVA) protocolou uma Ação Civil Pública (processo nº 1006776-83.2025.8.26.0223), na Vara da Fazenda Pública de Guarujá, contra a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (SABESP) e a Prefeitura Municipal, responsabilizando ambas pelo descaso com o saneamento e pelos danos socioambientais provocados na região.

A entidade reforça que os problemas no Rio do Peixe não são casos isolados, mas refletem falhas estruturais persistentes — diferentemente do que tenta fazer crer a administração municipal, que insiste em tratar as denúncias como eventos pontuais.

A luta por um saneamento digno continua

A Água Viva reafirma sua posição: não há como manter um contrato milionário com uma empresa que descumpre sistematicamente suas obrigações e coloca em risco a saúde e a dignidade da população. A responsabilidade do município não pode ser terceirizada ou tratada com omissão institucional.

No Ofício nº 489/2025, a Associação exige:

  • Acesso aos relatórios do Grupo de Trabalho previsto no Decreto nº 16.536/2025;
  • Informações claras sobre providências diante dos descumprimentos da SABESP;
  • Criação de canal de participação da sociedade civil nas ações de acompanhamento.

Se o grupo existe, que mostre a que veio.
Se há fiscalização, que ela seja pública.
Se a SABESP falha, que o contrato seja revisto com urgência.

Guarujá não pode mais aceitar ser tratado como periferia do saneamento.


📧 Para denúncias e colaborações, entre em contato: contato@guaruja.org.br

Acesse o Ofício nº 489/2025 na íntegra