GUARUJÁ EXIGE ZONEAMENTO SÉRIO

*José Manoel Ferreira Gonçalves
Engenheiro, advogado e jornalista
Membro do Conselho Municipal de Meio Ambiente – COMDEMA

Participação sem base não é participação

Antes de tudo, é um absurdo convocarem para hoje um “workshop” final da APA da Serra de Santo Amaro sem apresentar cálculos de capacidade de suporte. Além disso, sem esses números, ninguém define quantos visitantes a área comporta sem colapsar recursos naturais e infraestrutura. Portanto, faltam métricas de limite ecológico, capacidade de carga social e capacidade de carga infraestrutural — saneamento, transporte e hospitalidade. Assim, não existe governança, e sim aposta no improviso.

Zoneamento APA Serra Guarujá

Por consequência, zoneamento responsável começa com diagnóstico completo, indicadores públicos e simulações de cenários, e não com rito acelerado para “fechar ciclo”. Ademais, sem séries de dados sobre recarga hídrica, erosão, tráfego e resíduos, qualquer mapa vira desenho político, não ferramenta técnica. Portanto, exijo transparência integral do trabalho do IPT, com planilhas abertas, memória de cálculo e mapas em alta resolução auditáveis. Assim, a sociedade participa de verdade, porque consegue verificar, questionar e corrigir rumo.

Serviços colapsando, temporada nem começou

Entretanto, o Guarujá já enfrenta contaminação de água e fechamento de serviços essenciais, como o CRPI, fato que desmonta o discurso de “capacidade sobrando”. Além disso, sem investimentos imediatos em saneamento, drenagem e gestão de resíduos, o turismo pressiona os ecossistemas e agrava riscos à saúde. Portanto, antes de ampliar visitação, precisamos corrigir a base: estanqueidade de redes, monitoramento online da qualidade da água e coleta com rota inteligente. Assim, a cidade deixa de apagar incêndio e passa a prevenir.

Zoneamento APA Serra Guarujá

Do mesmo modo, a definição de zonas — Proteção Integral, Uso Sustentável, Ocupação Controlada, Conservação Geoambiental, Proteção de Mananciais e Amortecimento — só funciona com regras ancoradas em números. Além disso, sem coeficientes de declividade, limites de impermeabilização e metas de restauração, “proteção” vira palavra vazia. Portanto, defendo moratória de novos atrativos e de adensamentos em encosta até publicar a capacidade de suporte com auditoria externa. Assim, o zoneamento ganha credibilidade e protege vidas, água e patrimônio.

Plano com metas, não slogans

Em síntese, gestão sustentável exige medidas concretas: quotas de visitantes por trilha e por dia; licenciamento condicionado a saneamento; banimento de plásticos descartáveis; logística reversa obrigatória; fiscalização comunitária com aplicativo; e penalidades progressivas. Além disso, proponho painéis públicos com indicadores semanais de água, resíduos e pressão turística, porque dado aberto inibe abusos. Portanto, o poder público precisa apresentar cronograma, orçamento e responsáveis por meta, e não discursos. Assim, quem cumpre regra prospera; quem depreda paga.

Chamado à responsabilidade imediata

Por fim, amanhã deve servir para cobrar método, e não para carimbar formalidades. Além disso, a comunidade deve exigir: publicação do diagnóstico completo, audiência por bairro, revisão técnica independente e calendário de revisão anual do plano. Portanto, sem capacidade de suporte e sem infraestrutura comprovada, qualquer “ok” ao zoneamento será temerário. Assim, seguimos firmes: proteger a Serra de Santo Amaro significa proteger gente, saúde e futuro — e isso começa com números, metas e coragem.

*José Manoel Ferreira Gonçalves é Engenheiro Civil, Advogado, Jornalista, Cientista Político e Escritor. Pós-doutor em Sustentabilidade e Transportes (Universidade de Lisboa). É fundador e presidente da FerroFrente e da Associação Água Viva, coordenador do Movimento Engenheiros pela Democracia (EPD) é um dos fundadores do Portal de Notícias Os Inconfidentes, comprometido com pluralidade e engajamento comunitário.

Declaração de Fontes: Lei nº 9.985/2000 (SNUC); Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima – diretrizes para APAs; ICMBio – Roteiro metodológico para planos de manejo; Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) – estudos da APA Municipal da Serra de Santo Amaro (diagnóstico em elaboração); Prefeitura do Guarujá/SEMAM; Jornal A Tribuna – reportagens sobre contaminação de água no Guarujá; CRPI Guarujá; Ministério do Turismo – Diretrizes para Turismo Sustentável.