Guarujá versus demais cidades do litoral sul paulista: um olhar crítico sobre o Código de Posturas

O recente debate em torno do Código de Posturas de Guarujá, que reforça a proibição da permanência de animais soltos nas ruas e de barracas nas praias, reacende uma discussão regional: como as cidades do litoral sul paulista equilibram ordem pública, turismo e qualidade de vida?

Animais nas praias: rigidez x flexibilização

Enquanto Guarujá mantém uma proibição total da presença de animais na faixa de areia e na água, aplicando multas elevadas (até 250 UFM, cerca de R$ 1.065), outras cidades seguem caminhos diferentes:

  • Santos adota um modelo híbrido, criando trechos e horários específicos pet-friendly, com exigências de guia, vacinação e recolhimento de dejetos.
  • Praia Grande, Itanhaém e Peruíbe mantêm proibição integral, com foco em fiscalização.
  • Mongaguá e Bertioga têm legislações que também vetam animais, mas a aplicação varia conforme campanhas educativas e decretos locais.

O contraste é nítido: Guarujá aposta na punição, enquanto Santos busca conciliar demandas sociais e turismo com controle sanitário.

Uso de barracas e tendas: uniformidade parcial

No tema da ocupação da orla com barracas/tendas, há maior convergência regional:

  • Guarujá proíbe a instalação de estruturas fixas, exceto guarda-sóis, alinhando-se a Bertioga e Mongaguá, que também endureceram regras recentes.
  • A motivação é comum: segurança, estética urbana e prevenção de ocupações irregulares.
  • O desafio está na clareza das exceções (eventos autorizados, ambulantes licenciados), ponto ainda nebuloso em Guarujá, mas mais detalhado em decretos de Bertioga.

Críticas ao modelo de Guarujá

  1. Ausência de alternativas: diferentemente de Santos, Guarujá não oferece trechos controlados para tutores de animais, ignorando uma demanda crescente.
  2. Penalização desproporcional: a multa alta em primeira infração pode ser vista como punitiva, sem fase educativa.
  3. Desarmonia regional: turistas que circulam entre cidades enfrentam regras diferentes, o que gera confusão e conflitos.
  4. Carência de infraestrutura: faltam lixeiras, pontos de apoio e campanhas permanentes que facilitem o cumprimento das normas.

Recomendações

  • Inspirar-se em Santos e criar um projeto-piloto de área/horário pet-friendly.
  • Escalonar penalidades, começando com advertência e aplicando multa progressiva em caso de reincidência.
  • Harmonizar regras regionais, por meio de pactos intermunicipais que facilitem a experiência de turistas.
  • Investir em comunicação e infraestrutura, com placas multilíngues, campanhas educativas e pontos de recolhimento de dejetos.
  • Revisar regras de barracas, esclarecendo exceções e procedimentos para autorização.

Conclusão

Guarujá, ao reforçar proibições rígidas, busca preservar a ordem e a estética da cidade, mas corre o risco de se distanciar das demandas contemporâneas de convivência urbana e turística. A experiência de Santos mostra que é possível encontrar um equilíbrio entre controle, inclusão e sustentabilidade. Sem ajustes, Guarujá pode permanecer presa a um modelo punitivo, enquanto outras cidades avançam em soluções mais inteligentes e integradas.

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