Navio Bomba: Um Risco Iminente à Baixada Santista

*Por José Manoel Ferreira Gonçalves

O Perigo do Gás Natural Liquefeito

A instalação de um terminal de regaseificação de gás natural liquefeito (GNL) no Porto de Santos tem gerado grande preocupação na Baixada Santista. O projeto, liderado pela empresa Comgás, prevê a importação de GNL de diversos países, com navios transportando até 265.000 m³ de gás a -162ºC. O gás seria descarregado em um navio de armazenamento e regaseificação, localizado em uma bacia de evolução próxima ao Casario da Alemoa, e posteriormente distribuído por meio de uma tubulação até Cubatão, onde seria odorizado e direcionado para diversos locais, incluindo o Planalto Paulista.

Embora o gás natural seja um combustível importante para a economia, a localização escolhida para o terminal é extremamente preocupante. O Ministério Público do Estado de São Paulo, ciente dos riscos envolvidos, entrou com uma ação civil pública questionando a instalação do terminal no local proposto. Em países desenvolvidos, terminais de GNL são instalados a pelo menos 10 milhas da costa, em áreas offshore, para garantir a segurança da população.

Riscos de Explosão e Impactos Humanos

O GNL é um gás inodoro e altamente inflamável. Em caso de vazamento, a população não seria capaz de detectar o perigo, aumentando o risco de asfixia e explosões. Em 1944, um vazamento de GNL em Cleveland, Estados Unidos, resultou na explosão de diversas casas, causando danos significativos. A tragédia só não foi maior porque ocorreu em um horário em que a maioria das pessoas estava fora de casa.

Um físico americano calculou que um navio com metade da capacidade do que está previsto para operar em Santos teria o potencial de uma explosão equivalente a 55 bombas de Hiroshima. Considerando o tamanho do navio que será utilizado e o navio de armazenamento, o potencial destrutivo poderia ultrapassar 100 bombas de Hiroshima.

A instalação do terminal no Porto de Santos coloca em risco não apenas a população da cidade, mas também de toda a Baixada Santista. Hospitais, universidades, residências e milhares de vidas estariam expostos a um perigo iminente.

Impactos Econômicos e a Inércia das Autoridades

Além dos impactos humanos, uma explosão no terminal de GNL teria consequências devastadoras para a economia. O Porto de Santos é responsável por 1/3 do PIB nacional, e um acidente dessa magnitude paralisaria as atividades portuárias, gerando prejuízos incalculáveis.

Apesar dos alertas da sociedade civil e de alguns vereadores, as autoridades têm demonstrado lentidão e falta de compreensão da gravidade da situação. Ofícios e representações foram enviados a diversos órgãos do poder público, incluindo ministérios e o gabinete do presidente da República, mas até o momento não houve uma resposta efetiva.

A Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP) também foi informada sobre os riscos do projeto, mas não demonstrou interesse em discutir o assunto. A falta de diálogo e a inércia das autoridades são preocupantes e demonstram a influência do poder econômico sobre a segurança da população.

A Luta da Sociedade Civil

Diante da inércia das autoridades, a sociedade civil tem se organizado para lutar contra a instalação do terminal de GNL no Porto de Santos. Entidades como a Frente Ampla da Baixada Santista, o Fórum da Cidadania e o Fórum Social da Baixada Santista têm se mobilizado para conscientizar a população e pressionar as autoridades.

A luta contra o “navio bomba” é uma luta de todos nós. É fundamental que a população se una e exija que o projeto seja revisto, garantindo a segurança da Baixada Santista e do Brasil.

A Necessidade de Ação Imediata

A instalação do terminal de GNL no Porto de Santos representa um risco inaceitável para a população e a economia da região. É urgente que as autoridades tomem medidas para impedir esse projeto e buscar alternativas mais seguras para o fornecimento de gás natural. A vida de milhares de pessoas está em jogo, e não podemos permitir que a ganância e a irresponsabilidade prevaleçam sobre a segurança e o bem-estar da sociedade.

*José Manoel Ferreira Gonçalves é jornalista, cientista político, engenheiro, escritor e advogado. Pré-candidato a prefeito de Guarujá pelo PSOL. É presidente da Associação Guarujá Viva, AGUAVIVA, e da Frente Nacional pela Volta das Ferrovias, Ferrofrente. Idealizador do Portal SOS PLANETA

Fontes de dados: #PoisZéCast – Ep3: Navio Bomba e os Impactos na Sociedade com Dr. Me. Jeffer Castelo Branco, Doutor em Ciências pelo Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Ciências da Saúde da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp); Pesquisador do Núcleo de Estudos, Pesquisas e Extensão em Saúde Socioambiental da Universidade Federal de São Paulo. Atua também como membro da Comissão Nacional de Segurança Química (Conasq) e no Grupo de Trabalho sobre Solo e Resíduos da Câmara Técnica de Qualidade Ambiental do Conama. É membro do Conselho Tecnológico da AguaViva. Informações adicionais obtidas por meio de pesquisa.