Por José Manoel Ferreira Gonçalves
Currículo: https://bit.ly/3U8Ltol
Recesso das Ostras, Alarme dos Pescadores
Os ventos da mudança nem sempre trazem o aroma fresco da inovação; aos pescadores artesanais do litoral paulista, resta o odor pútrido da poluição e do declínio. Nas tardes abafadas, encontramos a maré para descobrir um mar em agonia – onde o principal sustento vem das ostras e onde a sobrevivência da comunidade depende do que as águas lhes concedem. O mar já não é mais generoso. Os pescadores observam um cenário cada vez mais desolador; onde antes havia abundância, hoje se exige um esforço colossal pelo ganha-pão. As queixas dos pescadores, como as ostras, acumulam-se nas margens da esperança.
De Pescador a Testemunha do Declínio
As águas, antes cúmplices dos pescadores, agora escondem menos peixes e camarões menores, enquanto a chuva cruel de um progresso questionável infiltra poluentes no oceano, como mercúrio. Trata-se de um ciclo vicioso onde a chuva leva consigo todos os vestígios da civilização à beira-mar e os deposita no ventre aquático, estrangulando a vida. O lodo resultante da dragagem levou a uma brutal queda na pesca – a tainha, outrora capturada aos quilos, hoje é um vislumbre cada vez mais raro. A insegurança alimentar aperta seu cerco e, enquanto o mar grita por socorro, quase duzentas mil almas enfrentam uma incerteza desumana.
O Dossiê da Destruição
Armados com a curiosidade e ceticismo necessários aos pesquisadores, decidimos investigar a fundo. E o que descobrimos? Documentos reveladores estão nas mãos dos Ministérios Públicos Federal e Estadual. Um relatório, construído sobre os relatos de pescadores de 23 localidades, evidencia o impacto devastador das dragagens no canal do Porto de Santos. Os problemas não se resumem a quedas na pesca – há surtos de alergia e até camadas lamacentas que interferem nas embarcações e no bem-estar dos peixes.
O Chamado por Transparência e Reparação
A resposta a esta tragédia ambiental e humana? Reivindicações por transparência na gestão das dragagens, monitoramento mais inclusivo com representação dos pescadores e um apelo para reparação de danos. A comunidade pesqueira se vê impelida a olhar além do horizonte e a estender as mãos em busca de aliados – tanto das autoridades competentes como possivelmente da própria natureza em seu milagre cotidiano. O mar, esse provedor ancestral, agora inspira uma batalha por justiça ambiental e social para garantir que as gerações futuras também possam chamar o oceano de lar.
O Alto Preço do Progresso
Mas o pescador, longe de lamentar inativo, é confrontado com um custo crescente por sua persistência. Viajar longas distâncias para encontrar o que o mar já não oferece às margens cobra seu preço. As redes, infladas nos preços e dilaceradas pela lama, estão longe da durabilidade de outrora. Uma rede de pesca, uma ferramenta essencial na conquista diária pela subsistência, hoje é uma vítima do caos que se estende pelo leito do mar, outro soldado caído na batalha contra a poluição e a negligência.
Por um Futuro sem Lama
Não é apenas sobre a sobrevivência imediata – é sobre um futuro possível. Os gritos do mar encontram eco na resistência desses moradores do litoral. Enquanto as autoridades debatem e ponderam sobre o impacto das dragagens, há um apelo para estudos independentes, talvez sob os auspícios acadêmicos, para desvendar a extensão dos danos e oferecer soluções. O mar é um tesouro de vida, mas se tornou palco de uma desoladora calamidade ambiental – um reflexo de nossa falha em coexistir harmoniosamente com a natureza.
Se a Baixada como um todo ganha com a necessária expansão do Porto de Santos, é justo que ela, por meio de seus impostos, repare as perdas de quem nada pode, exceto amargar a situação de vítima deste benfazejo progresso. Reparação ao pescadores não representa nada além da mais elementar justiça e, para tanto, lutaremos, apresentando um projeto de lei que os repare.
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Fontes de Dados Usadas
Este artigo é fundamentado, não só, mas essencialente, no vídeo “Lama e Caos – Diário de um Repórter com Carlos Ratton” disponível no YouTube. O conteúdo do vídeo foi analisado, sintetizado e ampliado com o propósito de expandir a consciência sobre a realidade dos pescadores artesanais e os efeitos da poluição marinha.
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