Foi apresentada uma proposta de construção de estrutura na Ponta da Praia
A TRIBUNA – A viabilidade de mais um terminal marítimo de passageiros em Santos é colocada em xeque por especialistas. A Diretoria Colegiada da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq) autorizou que o Ministério de Portos e Aeroportos (MPor) celebre a adesão com a empresa Transbrasa para a construção e exploração de Instalação Portuária de Turismo (IPTur), denominada Projeto Santos Vivo, na Ponta da Praia, às margens da Baía de Santos.
O projeto se estenderia em paralelo ao canal de navegação do Porto, em uma área de 294 mil metros quadrados (m²). O investimento privado seria de R$ 1,24 bilhão. O aval da Antaq, porém, indica apenas que não há impedimento para que os estudos prossigam. Não se trata de autorização para a construção. Tecnólogo em Logística e Transportes e consultor da Agência Porto, Ivam Jardim, deixa claro que, no Brasil, pelos volumes de embarque, desembarque e trânsito de passageiros, não há a possibilidade de mais de um terminal operando no mesmo porto ou na mesma região.
Jardim lembrou que, no documento da Antaq, o diretor-geral Eduardo Nery e a diretora Flávia Takafashi fizeram duas recomendações ao MPor. A primeira é que a pasta avalie o impacto da iniciativa na implementação das diretrizes do planejamento do Porto de Santos. Já a segunda alerta o Ministério de que não houve análise concorrencial prévia à autorização.
“Essas recomendações são um alerta para a Secretaria Nacional de Portos, que deve zelar pela parte concorrencial de se autorizar um novo terminal no Porto de Santos. Além disso, se implementado, e em uma suposição teórica de que cada um ficasse com metade das atracações, torna-se completamente inviável a troca de área do Concais para o Valongo, etapa importante para apoiar o projeto da Prefeitura de Santos para revitalizar a região”, comenta.
Consultor portuário e diretor da V2PA Engenharia e Consultoria, Marcos Vendramini, endossou a inviabilidade do empreendimento com outras justificativas. Uma é a paisagística. “Custa a crer que os moradores da Ponta da Praia aprovem a construção de uma infraestrutura gigantesca que irá bloquear a vista não apenas da Baía de Santos, como também da Fortaleza da Barra”, afirma.
As outras versam a respeito de aspectos técnicos. “Um terminal de cruzeiros projetado deve possuir a capacidade para receber simultaneamente mais de 40 ônibus, permitir o estacionamento de mais de mil veículos de passeio e vans, além de instalações que acomodem o embarque e desembarque de cerca de 90 carros de passeio, táxi e transporte por aplicativo, também simultaneamente. Como se dará esse acesso pelas ruas da Ponta da Praia e Avenida da Praia? Uma embarcação de cruzeiros recebe em torno de 30 carretas de seis a nove eixos para abastecimento de mantimentos e mercadorias. Essas 60 carretas circularão pela Avenida da Praia nas manhãs de sábado para acessar o terminal?”, lista.
Revisão substancial
Procurada, a Prefeitura de Santos informou, também em nota, que o local proposto “não está abrangido pelas macrozonas que permitem tal empreendimento, necessitando uma revisão substancial ou alternativa locacional”. No entanto, indica a Administração, “o enquadramento legal atual não é um impeditivo futuro à realização do projeto no município e Santos”. A Prefeitura diz que a legislação municipal está sujeita a revisões e alterações que podem ser consideradas em resposta às necessidades e oportunidades emergentes, “visando sempre o desenvolvimento sustentável e integrado da Cidade”. “A apresentação rigorosa da documentação é essencial para que seja possível avançar na análise do projeto com a responsabilidade e o cuidado que o contexto exige”, finaliza.
Empresário diz querer “agregar”
Responsável pelo projeto, o diretor-presidente da Transbrasa, Bayard Freitas Umbuzeiro Filho, afirmou que não deseja fazer concorrência, mas agregar. “O projeto não tem só o condão de abrigar uma estação de passageiros. É, na verdade, amplo. Trata-se de uma estrutura de turismo receptivo, com marina, ciclovia, prédios para instalação de hotelaria, shopping e, para ter parte imobiliária, apartamentos incorporados e colocados à venda”, detalha. O empresário reforçou a necessidade, ressaltando o crescimento da quantidade de turistas de cruzeiros na cidade. Vale recordar, porém, que o Terminal Marítimo de Passageiros Giusfredo Santini, administrado pelo Concais, pode mais que dobrar de tamanho se for transferido da região de Outeirinhos para a área entre o Valongo e o Saboó, também em Santos.
“O volume será maior daqui a cinco, seis anos. O número de cruzeiristas vai aumentar sensivelmente. Não precisaremos de três berços (de atracação), mas de cinco, seis, oito”, argumenta Umbuzeiro.
Antaq
Além da autorização, a diretoria da Antaq recomendou ainda que o Ministério de Portos e Aeroportos (MPor) avalie a necessidade de fazer um estudo de impacto na implementação das diretrizes do planejamento e das políticas na mesma região geográfica. “No entanto, ressaltamos que o local em mar sugerido para a instalação é viável e foi aprovado pela Marinha”, diz, em nota. O MPor também foi procurado durante mais de dez dias, mas se negou a responder.
Fonte A Tribuna https://www.atribuna.com.br/noticias/portomar/projeto-de-novo-terminal-de-cruzeiros-em-santos-e-inviavel-apontam-especialistas-1.425050