José Manoel Ferreira Gonçalves
Engenheiro, advogado e jornalista
O colapso no abastecimento de água em Guarujá-SP escancara a urgência de soluções estruturais para evitar novos episódios de crise hídrica e sanitária.
Colapso na infraestrutura de abastecimento
Guarujá, mesmo sendo um dos destinos turísticos mais conhecidos do litoral paulista, enfrenta uma das maiores crises hídricas de sua história recente. Desde a última semana, mais de 150 mil moradores estão sem acesso regular à água potável. Segundo a Sabesp, o motivo seria uma falha no sistema de bombeamento do Córrego da Serraria, que abastece 80% da cidade. No entanto, especialistas e moradores afirmam que o problema é muito mais profundo.
A população denuncia que a falta d’água já era frequente em bairros como Vila Baiana, Santa Rosa e Morrinhos, mesmo antes da falha técnica. A ausência de investimentos em manutenção preventiva, somada ao crescimento urbano desordenado, tem sobrecarregado uma rede de distribuição envelhecida e frágil.
Além disso, Guarujá depende majoritariamente de mananciais superficiais, que são altamente sensíveis a mudanças climáticas e à poluição urbana. Com isso, a cidade vive uma situação-limite: pouca reserva hídrica, pouca infraestrutura e grande demanda.
Crise hídrica e sanitária: um ciclo perverso
A escassez de água está gerando uma crise hídrica e sanitária que afeta diretamente a saúde da população. Dados da Secretaria Municipal de Saúde apontam um aumento de 40% nos casos de diarreia aguda nas últimas semanas. Há também registros de hepatite A e suspeitas de leptospirose em comunidades que utilizam fontes alternativas e não tratadas.
Enquanto apenas 67% da população está conectada à rede de esgoto, segundo o Instituto Trata Brasil, o restante convive com fossas, valas e esgoto a céu aberto. A falta de água para higiene pessoal, preparo de alimentos e limpeza de ambientes agrava o risco de surtos infecciosos, sobretudo em regiões de maior vulnerabilidade social.
Essa crise hídrica e sanitária evidencia um problema estrutural: a desigualdade no acesso ao saneamento básico. Em bairros nobres, os impactos são mitigados com caixas-d’água ou soluções emergenciais. Já nas periferias, o caos é absoluto.
A resposta que não veio a tempo
Apesar das promessas da Sabesp de normalização em até 72 horas, a realidade nas ruas mostra uma demora alarmante. Caminhões-pipa enviados pela prefeitura não conseguem atender todas as regiões, e a distribuição emergencial privilegia áreas centrais. Moradores, então, organizam protestos, fecham vias e cobram providências imediatas.
ONGs como o Instituto Socioambiental (ISA) e Água Viva denunciam a negligência histórica com comunidades mais pobres, onde o impacto da crise é mais severo. Já especialistas destas associações apontam que a falta de planejamento e de investimento em infraestrutura hídrica transformou um problema pontual em tragédia anunciada.
“A falta de uma política de segurança hídrica, aliada à omissão em investimentos, leva cidades como Guarujá ao colapso”, afirma Marussia Whately, coordenadora da Aliança pela Água.
Soluções além da superfície
Resolver o desabastecimento exige mais do que consertar bombas. É preciso rever o modelo de gestão hídrica e implantar medidas de prevenção, como ampliação de reservatórios, reuso da água e recuperação de mananciais. Além disso, o saneamento básico precisa ser universalizado com urgência.
O caso de Guarujá serve como alerta nacional. A água, bem essencial à vida, ainda é tratada como um recurso ilimitado. Sem mudanças estruturais, o risco de novos colapsos só tende a crescer — e os mais pobres continuarão sendo os primeiros a pagar o preço.
*José Manoel é pós-doutor em Engenharia, jornalista, escritor e advogado, com uma destacada trajetória na defesa de áreas cruciais como transporte, sustentabilidade, habitação, educação, saúde, assistência social, meio ambiente e segurança pública. Ele é o fundador da FerroFrente, uma iniciativa que visa promover o transporte ferroviário de passageiros no Brasil, e da Associação Água Viva, que fortalece a participação da sociedade civil nas decisões do município de Guarujá. Membro do Conselho Deliberativo da EngD
Fontes Consultadas:
As informações contidas neste artigo foram obtidas a partir de fontes confiáveis e verificadas, como Metrópoles, Sabesp, Instituto Trata Brasil, Secretaria de Saúde de Guarujá e Aliança pela Água.
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