Gestão falha atrasa salários

*Por José Manoel Ferreira Gonçalves
Engenheiro, advogado e jornalista

A Crise Anunciada na Saúde

A realidade da saúde no Brasil, por vezes, se manifesta de forma crua e alarmante, expondo falhas sistêmicas que cobram um preço humano. O recente episódio em um hospital de Guarujá, no litoral paulista, onde funcionários protestaram contra salários atrasados e parcelados, não é um fato isolado, mas sim o sintoma agudo de uma doença crônica: a negligência gerencial. Esta situação, que se repete em diversas localidades, transcende a questão trabalhista; ela reflete a precarização de profissionais essenciais e um descaso flagrante com a população que deles depende. Longe de ser uma fatalidade orçamentária, o que se observa é o resultado direto de um modelo de gestão que se tornou insustentável.

O Mito da Falta de Recursos e a Ausência de Tecnologia Avançada Inovação

É tentador e, de certa forma, conveniente, atribuir a crise financeira de hospitais, como a que aflige a unidade em Guarujá, unicamente à insuficiência de verbas. Contudo, essa narrativa mascara a verdadeira raiz do problema: uma aversão ou incapacidade de implementar uma genuína Tecnologia Avançada Inovação nos processos administrativos. A verdade inconveniente é que muitas instituições persistem em práticas arcaicas, refratárias à transparência e à eficiência que as ferramentas modernas podem oferecer. A resistência em adotar sistemas integrados para o controle do fluxo de caixa, gestão de suprimentos e, crucialmente, o processamento da folha de pagamento, não é um acidente, mas um sintoma de uma administração defasada.

Esta inércia gerencial impõe um fardo desumano aos colaboradores, que, segundo estudos como os da Fiocruz, já sofrem com o abalo da saúde mental devido à precarização e à instabilidade. A consequência direta é um ambiente de desconfiança e um serviço de pior qualidade, no qual o profissional, preocupado com sua própria subsistência, não consegue se dedicar integralmente ao paciente.

Gestão: O Verdadeiro Gargalo da Inovação Hospitalar

Ao aplicar o Princípio de Pareto (que mostra que 80% dos efeitos vêm de 20% das causas), torna-se claro que a maior parte dos problemas financeiros e operacionais em unidades de saúde deriva de um número restrito de falhas gerenciais graves. A retórica da “falta de verba” serve como um escudo para a ineficiência na alocação dos recursos existentes e na solução preventiva dos problemas. A recusa em investir em Tecnologia Avançada Inovação, como softwares de gestão (ERPs) ou o uso de inteligência artificial para otimizar a escala de funcionários e o uso de leitos, não é um mero atraso, mas uma sabotagem ao potencial da instituição.

Relatórios de consultorias especializadas, como a KPMG, demonstram consistentemente que a digitalização e a automação de processos não apenas reduzem drasticamente os custos operacionais, mas também minimizam erros e liberam os profissionais para o que realmente importa: o cuidado ao paciente. Insistir em métodos manuais e descentralizados em um setor de alta complexidade é condenar a operação ao erro e ao desperdício. Portanto, a gestão ineficaz é o verdadeiro entrave, e a inovação tecnológica se apresenta como a via indispensável para superá-lo.

Um Caminho Inadiável

A situação observada em Guarujá é um microcosmo de uma crise nacional que demanda uma mudança de paradigma. A solução não está em aportes financeiros pontuais que apenas remediam o sintoma, mas em uma reestruturação fundamental das práticas de gestão. A modernização precisa ser encarada não como um custo, mas como o investimento mais estratégico que uma instituição de saúde pode fazer na sua própria sustentabilidade e na dignidade de seus colaboradores.

Atrasar salários é mais do que uma falha administrativa; é uma afronta àqueles que estão na linha de frente do cuidado e, em última instância, um atentado contra a segurança da sociedade. A hora de exigir e implementar uma administração profissional, transparente e ancorada no que há de mais eficiente em tecnologia é agora, antes que mais profissionais adoeçam e que mais pacientes fiquem desassistidos. O futuro da saúde depende disso.

*José Manoel é pós-doutor em Engenharia, jornalista, escritor e advogado, com uma destacada trajetória na defesa de áreas cruciais como transporte, sustentabilidade, habitação, educação, saúde, assistência social, meio ambiente e segurança pública. Ele é o fundador e presidente da FerroFrente e da Associação Água Viva. Em 2018, fundou e passou a coordenar o Movimento Engenheiros pela Democracia (EPD), criado a partir da convicção de que a engenharia, como base material do desenvolvimento nacional, deve estar a serviço da democracia, da ética e da justiça social.

Declaração de Fontes: As informações contidas neste artigo foram obtidas a partir de fontes confiáveis e verificadas, incluindo reportagens da imprensa nacional sobre a crise financeira em hospitais no Guarujá (A Tribuna e Diário do Litoral), estudos da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) sobre as condições de trabalho e saúde mental de profissionais da saúde, e análises de consultorias globais como a KPMG sobre a transformação digital e gestão na área da saúde.

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