Poluição e Crise no Guarujá

José Manoel Ferreira Gonçalves
Engenheiro, advogado e jornalista

Audiência pública escancara crise ambiental

No último dia 24 de março, a Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo sediou uma audiência pública histórica para a Baixada Santista. Organizado pela ONG Água Viva com apoio do deputado Maurici, o encontro reuniu autoridades, especialistas e representantes da população para tratar da gravíssima poluição nas praias e rios do Guarujá. O evento não só deu voz a moradores indignados como consolidou um dossiê detalhado dos problemas enfrentados na região — revelando um colapso sanitário com impacto direto na saúde, no meio ambiente e na economia local.

A importância do encontro vai além das denúncias. Pela primeira vez em anos, houve escuta ativa por parte de instituições como CETESB e SABESP, pressionadas a dar explicações diante de evidências irrefutáveis: esgoto escorrendo de bueiros, manchas escuras nas areias da Praia das Astúrias, águas impróprias para banho em locais turísticos como Perequê e Tombo — mesmo esta última ostentando o selo “Bandeira Azul”.

Poluição praias Guarujá é uma tragédia anunciada

As falas na audiência revelaram um cenário de abandono. “A Praia do Perequê é a mais poluída do litoral paulista. É uma vergonha para nós do Guarujá”, denunciei como presidente da Água Viva. A oceanógrafa Luciana Frazão alertou sobre riscos invisíveis: o despejo de poluentes farmacêuticos no mar está criando microrganismos mais resistentes, agravando surtos virais.

Moradores também expuseram o drama cotidiano. “Sem chuva, com 35 graus de calor, e a bandeira vermelha ainda está na praia. Isso é inaceitável!”, protestou um cidadão da Enseada. Outro desabafou: “O ambulante, o pescador, a moça que vende coxinha — todos são atingidos diretamente por essa sujeira.”

Imagens chocantes foram exibidas: valas negras desembocando na areia em dezembro de 2023, alagamentos em ruas da Enseada em pleno verão, e vídeos recentes com esgoto transbordando em bairros nobres como Pernambuco. Tudo documentado. Tudo escancarado.

Infraestrutura precária e ligações clandestinas

A SABESP foi duramente criticada. O sistema de saneamento do Guarujá depende de estações de bombeamento frágeis e frequentemente inoperantes. “Temos um emissário submarino que funciona com base na sorte e em manutenções esporádicas”, declarou um técnico presente. Além disso, há centenas de ligações clandestinas de esgoto, denunciadas como “epidemia silenciosa” por moradores.

A CETESB, por sua vez, admitiu que não possui estrutura suficiente para checar todas as denúncias e que, muitas vezes, depende de dados fornecidos por prefeituras — frequentemente imprecisos ou manipulados. Ainda assim, reconheceu que o emissário da Vila Zilda, o maior do litoral paulista, precisa de reavaliação urgente.

Poluição praias Guarujá clama por ação imediata

O encontro culminou em um apelo coletivo: um plano emergencial, já. A proposta apresentada por mim exige fiscalização intensa da rede de esgoto, investimentos estruturais e transparência absoluta. “Queremos cronograma. Queremos caça-esgoto funcionando em todos os bairros. E queremos poder fiscalizar isso como sociedade civil”, afirmou, aplaudido de pé.

A privatização da SABESP também gerou temor. Experiências internacionais foram citadas como alertas. “Na Bolívia, na França, nos Estados Unidos… onde privatizou, foi desastre”, lamentou um morador. O receio é que o lucro sufoque o interesse público — e o oceano continue sendo o destino final da negligência.

*José Manoel é pós-doutor em Engenharia, jornalista, escritor e advogado, com uma destacada trajetória na defesa de áreas cruciais como transporte, sustentabilidade, habitação, educação, saúde, assistência social, meio ambiente e segurança pública. Ele é o fundador da FerroFrente, uma iniciativa que visa promover o transporte ferroviário de passageiros no Brasil, e da Associação Água Viva, que fortalece a participação da sociedade civil nas decisões do município de Guarujá. Membro do Conselho Deliberativo da EngD

Declaração de Fontes:
“As informações contidas neste artigo foram obtidas a partir da ata e apresentação da audiência pública da Alesp em 24/03/2025, além de falas de participantes, registros fotográficos e documentos da ONG Água Viva.”

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