Poluição sem vergonha e covardia pública

José Manoel Ferreira Gonçalves
Engenheiro, advogado e jornalista

Guarujá afunda entre promessas e esgoto

Mesmo com alertas constantes de contaminação, a Praia de Perequê continua atraindo turistas. As placas de advertência sobre o risco para o banho de mar viraram decoração costeira. Enquanto isso, a Sabesp empurra a culpa para “ligações clandestinas” e a Prefeitura do Guarujá se omite de forma escandalosa. Não há plano robusto, nem atitude firme. O que existe é uma perigosa normalização do descaso — ou, pior, uma leniência suspeita.

A empresa que deveria garantir saneamento, a mesma Sabesp que é lucrativa e privatizada, aparece agora em denúncias no Ministério Público por permitir poluição nos reservatórios da Grande São Paulo, como Billings e Guarapiranga. Se lá, onde estão os olhos da mídia, o desleixo é assim, o que esperar do litoral?

Praia mais poluída do litoral de São Paulo

O Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor já apontava, anos atrás, que o saneamento no litoral paulista era uma vergonha. A Sabesp, com décadas de monopólio, pouco fez para mudar esse cenário. Em Guarujá, 90% da rede de esgoto já existe, mas a conexão efetiva ainda engatinha. O restante, adivinhe: vai direto para o mar.

A Praia de Perequê, conforme dados da Cetesb, está imprópria para banho em quase todos os fins de semana do ano. E o que faz a prefeitura? Apenas repete o bordão que está “trabalhando no problema”. Essa resposta virou sinônimo de covardia ou, quem sabe, de conivência.

É razoável imaginar que os interesses turísticos e econômicos falem mais alto do que a saúde pública? O silêncio e a omissão podem esconder não apenas incompetência, mas cumplicidade. A questão é: a quem interessa manter essa praia poluída e ainda assim movimentada?

Foco: Praia mais poluída do litoral de São Paulo

Essa é a praia onde se vende peixe fresco ao lado de um mar contaminado por coliformes fecais. É o paraíso da contradição — e da irresponsabilidade. A Sabesp lava as mãos como se não fosse responsável pela coleta e tratamento. Já a prefeitura, convenientemente, não fiscaliza os imóveis que despejam esgoto diretamente nas galerias pluviais.

E o povo? Continua indo à praia sem saber que um simples mergulho pode causar de gastroenterite a infecções graves. A frase — praia mais poluída do litoral de São Paulo — não deveria ser um título, mas um escândalo nacional.

Interesses obscuros por trás da leniência

Fica a dúvida incômoda: há interesses econômicos em manter essa zona cinzenta? Afinal, uma praia interditada afeta quiosques, feirantes, hotéis, e, principalmente, o caixa da cidade. Manter a sujeira invisível pode ser, para alguns, mais rentável que limpá-la. E nisso, a prefeitura e a Sabesp dançam no mesmo palco, fingindo que não veem a plateia tossindo.

Não há como tratar isso como “problema técnico”. Trata-se de uma escolha política. E quando a escolha é deixar que crianças mergulhem em esgoto, isso não é apenas negligência: é crime moral.

Hora de romper o ciclo de silêncio

O Guarujá precisa de um levante ético. A população tem o direito de exigir explicações públicas, com prazos, metas e responsabilidade. A Sabesp deve ser pressionada a apresentar resultados concretos, não desculpas batidas. E a prefeitura precisa ser questionada com firmeza: por que nada muda?

O litoral paulista não pode mais ser tratado como destino turístico de fachada e esgoto de verdade. Ou se age com coragem, ou se afunda de vez no próprio descaso.

*José Manoel é pós-doutor em Engenharia, jornalista, escritor e advogado, com uma destacada trajetória na defesa de áreas cruciais como transporte, sustentabilidade, habitação, educação, saúde, assistência social, meio ambiente e segurança pública. Ele é o fundador da FerroFrente, uma iniciativa que visa promover o transporte ferroviário de passageiros no Brasil, e da Associação Água Viva, que fortalece a participação da sociedade civil nas decisões do município de Guarujá. Membro do Conselho Deliberativo da EngD

Declaração de Fontes:
“As informações contidas neste artigo foram obtidas a partir de fontes confiáveis e verificadas, como A Tribuna (13/04/2025) e UOL Notícias (13/04/2025), além de dados da Cetesb e de análises de especialistas em saneamento e meio ambiente.”

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