*José Manoel Ferreira Gonçalves
Engenheiro, advogado e jornalista
Propaganda, Privatização, Mentiras, Desastre: O Espetáculo
Guarujá, a cidade de promessas efêmeras, assiste com uma mescla de desgosto e ceticismo à nova encenação da Sabesp. Hoje, a companhia lança anúncios que exaltam a expansão do saneamento básico como se de um conto de fadas se tratasse. A travessia subaquática, que pela promessa ligará a ETA Cubatão à cidade, promete segurança hídrica — uma garantia tão sólida quanto as promessas de outrora, há muito dissolvidas no mar de incertezas. E, acredite, uma nova Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) surgirá como a salvadora dos índices de coleta e tratamento, mesmo que a realidade insista em exibir os velhos problemas de um sistema que me permite essa paródia.
Obras Históricas ou Fábulas Urbanas?
Lembro-me, com um misto de nostalgia e escárnio machadiano, de tempos em que “obras históricas” eram anunciadas com pompa e circunstância, mas cujo resultado permanecia envolto na neblina do descaso. Hoje, a mesma peça é encenada: 22,1 quilômetros de redes coletoras nos bairros Perequê e Jardim Umuarama, quatro estações elevatórias e a ampliação do abastecimento em Morrinhos. Tudo isso se apresenta como parte de um grandioso Plano Regional de Saneamento, que também incluiria a despoluição do mar e de rios como o Cubatão. Contudo, se a retórica atual não traz mais do que a velha canção dos investimentos anunciados e nunca prestados, somos levados a questionar se o que se vende não passa de um bilhete de loteria destinado a enganar os desavisados.
Propaganda, Privatização, Mentiras, Desastre: A Ironia Final
O ápice da autoconfiança chega com o anúncio do governador de São Paulo: R$ 7,5 bilhões para transformar o saneamento nas nove cidades da Baixada Santista. É, por assim dizer, uma cifra que reluz a olhos virgens, mas que, à luz da experiência, se mostra mais um artifício de propaganda para encobrir a persistente privatização de um serviço que jamais deveria ser tratado como mercadoria. O monopólio, que em nome da modernização afasta a possibilidade de escolha — ou mesmo de recusa — do cidadão, é justamente o palco perfeito para a encenação ilusória.
O Sorriso Amargo da História
É-me impossível não rir do desfile de anúncios mirabolantes enquanto os problemas antigos permanecem insolúveis, a população doente e sem água e turistas batendo em retirada. A travessia subaquática e a nova ETE desfilam em cartazes, mas, como num romance de realismo ácido, o que se observa é a velha cantilena repetida: promessas que se dissipam como fumaça ao menor sopro de realidade. E, por detrás dos anúncios, o silêncio ensurdecedor das autoridades locais, que, em um gerenciamento duvidoso, parecem ter se resignado a perpetuar o ciclo de ineficiência e descaso. O cidadão, que paga e sofre com um serviço falho, vê-se imerso em um teatro de propagandas enganosas, onde a privatização transforma o direito básico à água em um luxo inalcançável.
José Manoel é pós-doutor em Engenharia, jornalista, escritor e advogado, com uma destacada trajetória na defesa de áreas cruciais como transporte, sustentabilidade, habitação, educação, saúde, assistência social, meio ambiente e segurança pública. Ele é o fundador da FerroFrente, uma iniciativa que visa promover o transporte ferroviário de passageiros no Brasil, e da Associação Água Viva, que fortalece a participação da sociedade civil nas decisões do município de Guarujá. Membro do Conselho Deliberativo da EngD
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