José Manoel Ferreira Gonçalves
Engenheiro, advogado e jornalista
Desorganização, ineficiência e dependência privada
O transporte público no Guarujá vive hoje um de seus piores momentos. Com ônibus lotados, frota sucateada e atrasos frequentes, o sistema se tornou um obstáculo para a mobilidade urbana e para a dignidade de quem depende dele diariamente. A mais recente medida da prefeitura — anunciar a troca da empresa operadora, após sucessivas falhas da atual prestadora, a City Transporte — reacende uma discussão essencial: até quando o município continuará refém de empresas privadas que recebem subsídios milionários e entregam um serviço precário?
A questão é clara: precisamos de mais qualidade, mais frequência e integração no transporte público. No entanto, trocar a empresa não é solução. Essa estratégia já foi testada no passado, sem resultado. O problema é estrutural. Falta transparência, planejamento e compromisso público com a mobilidade urbana.
Substituir não resolve: é preciso mudar o modelo
A intervenção na City Transporte, conforme anunciado pelo prefeito em vídeo gravado na garagem da empresa, revela a gravidade da situação. Segundo a administração municipal, a empresa recebeu milhões em subsídios e ainda assim ofereceu um serviço falho, com frota insuficiente e sem atender à população como deveria. O prefeito promete revisar as contas e, se necessário, levar o caso ao Ministério Público. Mas não é a primeira vez que isso acontece. E, infelizmente, não será a última, caso o modelo de concessão continue o mesmo.
O que se precisa discutir não é apenas quem irá operar o sistema, mas como o sistema deve ser operado. Empresas privadas visam lucro — é legítimo. Mas transporte público é direito social, não produto de mercado. A solução de longo prazo passa pela criação de uma empresa pública municipal de transporte, com controle social e metas de qualidade. Isso garantiria mais transparência, planejamento eficiente e um serviço verdadeiramente voltado ao interesse público.
A urgência de qualidade e tarifa zero
Não basta só trocar uma empresa por outra. A cidade precisa investir em políticas sérias de mobilidade urbana. Aumentar a qualidade, aumentar a frequência dos ônibus, oferecer condição de conectar a cidade toda. E ir além: começar a construir, com responsabilidade, o projeto de tarifa zero. Várias cidades brasileiras já implantaram esse modelo com sucesso, como Maricá (RJ) e Caucaia (CE), provando que é possível, sim, garantir transporte gratuito, com financiamento público justo e planejamento inteligente.
A tarifa zero é mais do que uma proposta social: é uma política de desenvolvimento. Ela aumenta o acesso a empregos, estimula o comércio, reduz o uso de carros e melhora o meio ambiente. E o custo? É menor do que se imagina, especialmente quando comparado aos recursos hoje drenados para sustentar empresas privadas ineficientes.
Hora de coragem política
O caos no transporte público do Guarujá não será resolvido com soluções improvisadas. A cidade precisa de coragem política para romper com um modelo ultrapassado e construir um sistema público, gratuito e eficiente. A criação de uma empresa pública de transporte não é utopia — é uma necessidade urgente. Basta inteligência, trabalho e planejamento. E, principalmente, vontade de mudar de verdade.
*José Manoel é pós-doutor em Engenharia, jornalista, escritor e advogado, com uma destacada trajetória na defesa de áreas cruciais como transporte, sustentabilidade, habitação, educação, saúde, assistência social, meio ambiente e segurança pública. Ele é o fundador da FerroFrente, uma iniciativa que visa promover o transporte ferroviário de passageiros no Brasil, e da Associação Água Viva, que fortalece a participação da sociedade civil nas decisões do município de Guarujá. Membro do Conselho Deliberativo da EngD
Declaração de Fontes:
“As informações contidas neste artigo foram obtidas a partir de fontes confiáveis e verificadas, como o Diário do Transporte, dados públicos da Prefeitura do Guarujá e experiências de municípios com tarifa zero no Brasil.”
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